segunda-feira, 17 de junho de 2013

A névoa

Um coração cansado. Um coração que vagueia por uma qualquer rua vazia e obscura de onde qualquer perigo pode surgir a qualquer momento. O que define a fragilidade de uma alma cansada de amar? Quantos serão os golpes do destino que poderá suportar? A brisa fria que corre devagar por essa rua relembra o quão um dia esse coração foi bafejado com o calor de um sentimento que agora é nada. Pode-se seguir e viver com nada, nada esse que é tudo, tudo o que tem para acreditar e continuar a caminhar.

Ao entrar num beco escuro, esse coração acende mais um cigarro. O fumo que fica no ar confere uma atmosfera sombria, tão sombria como si mesmo que quase se confundem e deixam de ser vistos. Existirá outro coração a acender esse cigarro e que se funda também ele no fumo que com a brisa fria segue e se encontra com outro coração? Talvez os espíritos sempre voltem depois da travessia pagando algo ao guardião da luz apenas para viver esse momento que se esfumaçará em poucos segundos mas que trará no meio da névoa e da brisa fria, um leve calor estranho que relembra que um dia talvez não hajam mais golpes para enfrentar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Talvez...


- Sentes-te bem?
- Não.
- Queres falar sobre isso?
- Não.
- E porquê?
- Porque ninguém me vai entender.
- Porque não tentas?
- Sinto-me só.
- Como assim?
- Vês?
- Preciso perguntar-te para te perceber melhor.
- Imagina-te numa praia. A maré subiu e a água é quente. Entras na água e nadas, por vezes cansas-te mas continuas a nadar envolvido nessa sensação de tarde de verão e finalmente decides sair.
Depois a maré começa a descer pois ela não fica ali para sempre. Tu deitas-te ao sol ainda tocado pelo sabor salgado, o cheiro da areia, o molhado da toalha estendida e pelo quente dos raios que te beijam. Depois percebes que não gostas da maré vazia.
- E então? Ela não volta a encher?
- Volta. Mas já não é tão boa como a primeira maré da tarde que apanhaste.
- Então voltas no dia seguinte e procuras encontrar a mesma maré do dia anterior.
- E se essa maré tiver sido um momento daqueles únicos que "talvez" nunca mais voltes a encontrar?
- Bom, nesse caso, aproveitas na mesma a praia na esperança de encontrares novamente esse momento único que me falaste.
- E se te disser que desisti da maré, da praia, do sol, da toalha, do sabor salgado e de tudo?
- Aí vais-te sentir triste e só, não só porque não encontras mas porque perdeste a paixão pela procura.
- É isso.
- Tens sempre o talvez...

domingo, 3 de fevereiro de 2013




There are some mistakes we make that probably don't have much of a solution. Maybe there's a reason for that, maybe it wasn't meant to be, maybe it is a hard lesson to learn.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A noite

‎"Perante a suave brisa da noite, percebo que não sinto mais nada além disso. É olhar para o horizonte recortado de uma cidade e perceber que há tanto por descobrir, tanto por viver, tanto por fazer e ainda assim se viver acomodado numa prisão de ilusões de que as coisas são como são e não há volta a dar. Mas a luz da lua é mágica e permite sonhar. Algures no meio desta triste alma dormente de sentir há uma pequena esperança acordada pela luz dessa lua dos sonhos. E no refúgio da interminável e eterna beleza da noite me aconchego mais uma vez esperando que me envolva e me receba como sempre tem feito até hoje. Afinal, as estrelas não brilham sem escuridão e só assim a noite se cobre de amor, do meu amor."

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Limbo


Será possível esquecer partes da nossa existência, da nossa vivência? Há uma parte da minha vida que está apagada da minha mente e por mais que me esforce não consigo lembrar-me de nada. Será que não significou nada para mim? Ou significou tanto que o golpe fatal do destino fez com que tudo desaparecesse como quando acordamos e não nos lembramos do que estávamos a sonhar? Tenho tantas perguntas na minha alma que vagueiam por esses corredores vazios da memória em busca de respostas que parecem não chegar. As emoções sempre tomaram conta de mim e sempre foram muito verdadeiras mas nem sempre dirigidas a quem realmente merecia. Será que a tristeza que trago no peito se refere a qualquer coisa que aconteceu nesse pequeno limbo da minha memória? Às vezes quero chorar e não consigo. Sei que com cada lágrima conseguiria a pouco e pouco desvendar o mistério de um tempo que sei não estar esquecido mas apenas perdido pelo efeito trágico que teve. Mas continuo com questões às questões. Porque é que tempos conturbados desaparecem da memória e tempos realmente difíceis, desesperados, magoados permanecem vivos como uma dor dilacerante sem volta? 
Se calhar todos temos direito ao uso do limbo da memória uma vez na vida. E eu já usei o meu indevidamente. Agora tenho que viver com a dor das lembranças por pior que elas sejam, porque usei o meu limbo onde não devia e no que era suportável.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Dizem que ao sonharmos as nossas almas saem do corpo e encontram-se com as almas com que estamos a sonhar. Nesta tarde de pôr do sol encontrei-te. Olhei os teus olhos e beijámo-nos. Tu, o teu aroma envolveram-me…será que a tua alma se lembra do nosso encontro?