- Sentes-te bem?
- Não.
- Queres falar sobre isso?
- Não.
- E porquê?
- Porque ninguém me vai entender.
- Porque não tentas?
- Sinto-me só.
- Como assim?
- Vês?
- Preciso perguntar-te para te perceber melhor.
- Imagina-te numa praia. A maré subiu e a água é quente.
Entras na água e nadas, por vezes cansas-te mas continuas a nadar envolvido
nessa sensação de tarde de verão e finalmente decides sair.
Depois a maré começa a descer pois ela não fica ali para
sempre. Tu deitas-te ao sol ainda tocado pelo sabor salgado, o cheiro da areia,
o molhado da toalha estendida e pelo quente dos raios que te beijam. Depois
percebes que não gostas da maré vazia.
- E então? Ela não volta a encher?
- Volta. Mas já não é tão boa como a primeira maré da tarde
que apanhaste.
- Então voltas no dia seguinte e procuras encontrar a mesma maré
do dia anterior.
- E se essa maré tiver sido um momento daqueles únicos que "talvez" nunca mais voltes a encontrar?
- Bom, nesse caso, aproveitas na mesma a praia na esperança
de encontrares novamente esse momento único que me falaste.
- E se te disser que desisti da maré, da praia, do sol, da
toalha, do sabor salgado e de tudo?
- Aí vais-te sentir triste e só, não só porque não encontras
mas porque perdeste a paixão pela procura.
- É isso.
- Tens sempre o talvez...